🛸 olá, internautas! bem-vindes a 2024! 🛸
depois de olhar muitos reports de tendências pra esse ano que começa, a conclusão sem graça que temos é que, de acordo com os empresários, marketeiros e marketeiros premium (ou seja, os pesquisadores de tendências), em 2024, tudo segue meio que na mesma. e devo dizer que, dessa vez, concordo um pouco com meus inimigos. os Grandes Temas e Tensões que vivemos em 2023 seguirão esse ano, com muito embate sobre IA, fluxo das redes controlado por algoritmos programados por grandes empresas e uma estafa geral do excesso de tudo. ao mesmo tempo, sinto que, esse ano, algumas coisas novas vão começar a sair da virtualidade imaginária e aparecer na virtualidade digital. pequenos brotinhos nascerão nas terras arrasadas da nossa internet, e tô curiosa pra ver o que os malucos vão criar.
acontece que eu não sou maluca, apenas doida. isso significa que não consigo contar pra vocês quais são essas novidades que surgirão no horizonte; mas também não quer dizer que não tenha meus palpites pro ano que se inicia. e, dessa vez, decidi tentar algo novo e compartilhar com vocês minhas previsões pro ano. absolutamente nenhuma delas tem uma base sólida ou mesmo muito lógica – mas até aí tendência é a economia pra publicitário tal como economia é a astrologia pra gente do mercado financeiro. como ex-astróloga, admito aqui que parto dos meus poderes sensitivos para apontar os acontecimentos futuros na internet. também contei com a ajuda de minha querida amiga absurdista raulaniava para ter certeza de que minhas visões eram possíveis ou apenas projeções dos meus desejos mais sórdidos. todas as previsões são relacionadas a comportamento e cultura, mas tentamos colocar coisas que de algum modo observaremos através de aparelhos digitais. não vim aqui dizer quais novas técnicas surgirão, muito menos quem vai morrer esse ano (minha tia acha que vai ser o fernando henrique, e meu pai acha que vai o fernando collor, o que aponta um ano possivelmente complicado para os fernandos da política nacional. haddad que se cuide!), mas venho com algumas previsões inúteis de moda e comportamento nesse começo de ano.
nada do que escrevo aqui está escrito em pedra. até porque digitei com um teclado de laptop. mas a verdade é que sou uma grande vanguardista de tendências culturais, estando aproximadamente 2 anos à frente do resto da população (fonte: minhas amigas). então, talvez, valha a pena prestar atenção no que falarei aqui. vamos ver no fim do ano o que vinga. assim, sem mais delongas, vamos ao que importa!
24 previsões inúteis para 2024
1. esgotamento gradual do snoopy e renascença do garfield
todo mundo sabe que 2023 foi o ano do snoopy. independente do buraco da internet que você vive, com certeza chegou pelo menos 01 (uma) imagem do snoopy por mês em alguma das suas redes sociais e você curtiu cada uma delas. o snoopy esteve em todos os lugares e todos os objetos. ele veio com força com sua carinha torta e simpática, seus muitos heterônimos e sua atitude desprendida. o snoopy foi tão grande que até ganhou uma ponta no filme maestro, do bradley cooper, sobre a vida do bernstein.
como uma snoopy girlie, eu amei cada segundo disso e gostaria que a vida fosse assim sempre, repleta de snoopys. mas sabemos que no tempo do capitalismo digital, tudo é produzido a um ponto tão excessivo que é impossível continuar. assim, os vanguardistas pouco comprometidos com o snoopy se cansarão de nosso cãozinho e logo migrarão para o gato garfield. por que o garfield? tudo que digo é: confia na mãe. ainda teremos muitos snoopys ao longo do ano, mas a ascensão do garfield tá aí, só não vê quem não quer.
hello kitty segue a mesma.
2. recessão da clean girl
não é que a clean girl vai acabar, porque não vai. não esse ano, pelo menos. ainda existirão meninas que só usam branco, off-white, bege e champanhe e alguns detalhes em verde musgo ou oliva. elas continuarão tomando seus matcha latte e cafés gelados durante o dia e postando sua rotina de skincare de manhã e de noite. suas unhas continuarão em tons de branco sem graça e poderemos vê-las nas fotos em que estão segurando um livro aberto, uma tigela de frutas ou mesmo seus iphones em frente ao espelho. clean girls seguirão sendo clean girls. a grande diferença é que elas se tornarão cafonas perante aos olhos de quem as vê. pouco a pouco, os sucos verdes voltarão ao seu lugar: nas garrafas e enormes copos dos marombados, registrados com um liquidificador imundo e uma bancada toda suja ao fundo.
3. cultura maromba não crescerá nem diminuirá, mas não teremos tantas fotos na academia
olha, a essa altura, ninguém mais se descobre rato de academia. ou você é, ou você não é. e ninguém descobre mais que adora fazer exercício físico. ou você adora, ou você odeia. então quem curte academia vai continuar indo pra academia e postando seus treinos e suas fotos no espelho e dizendo que é um ótimo lugar pra conhecer gente, apesar dessa última parte me parecer um problema cognitivo seríssimo, mas tudo bem. eu não tô dizendo que quem curte academia vai parar de fazer academia e de mostrar que vai à academia, porque isso vai seguir sim. mas com a vida voltada tão ao normal que não se fala mais da pandemia ou da “volta à normalidade”, vem aí a corrida na rua. ou no parque. basicamente, o que estou dizendo é que vem aí a corrida ao ar livre. o que significa que vem aí também selfies com tops coloridos e boné, tiktoks com uns tênis feios correndo no asfalto e prints de aplicativos que rastreiam o percurso que você fez junto a textos de pessoas emocionadas por descobrirem que podem percorrer a cidade.
4. minimalismo segue em voga
mas esperamos que sejam seus últimos suspiros.
5. meninas da gen z cortarão seus cabelos
ok, essa não é uma previsão sensitiva, é apenas um desejo que tô jogando pro universo porque não aguento mais essas jovenzinhas com cabelo até a bunda. está na hora das meninas redescobrirem o pixie e, caso não sejam tão corajosas, pelo menos o corte chanel! vocês estão na faculdade agora, meninas! é hora de cortar suas madeixas! parece que não aprenderam nada com sansão e rory gilmore!
6. tons terrosos mais uma vez migrarão de nicho
já foi cottagecore, artsy chique e clean girl, mas não fica por aí! esse ano, os tons terrosos serão adotados pelos empresários mindfullness e as girlbosses publicitárias. sim, mis colegas, essa palheta de cores finalmente sairá da área da criação e entrará pro mercado. e, sim, estou dizendo que publicitário não trabalha com criação!
7. fim do photo dump como conhecemos
quem posta foto continuará postando conjuntos de imagens, mas esses conjuntos serão menores – 3 a 7 fotos, eu diria – e, mais importante do que isso, serão conjuntos temáticos. nada mais de imagens sem contexto, voltaremos à base do cinema: uma série de imagens que, juntas, criam uma narrativa. o humor absurdista terá uma pausa antes da gen alpha chegar1, e seguiremos com os memes extremamente sem graça da genz (nada contra, até tenho amigues que são). também não vai ser mais cool postar foto de má qualidade. e diga adeus às fotos de lixo, as pessoas querem ver luxo. ninguém entende que ambos são demodê.
8. substack crescerá entre os shitposters
ninguém mais usa tuíter porque ele acabou. as pessoas que estão no x ficam cada dia mais sem graça. quem resta no tumblr é gente que acredita que sexualizar um adulto é sempre sexualizar a criança que elu foi e, portanto, é pedofilia. falta um espaço digital para o humor escrito. ah, clara, mas tem o mastodon, tem o bsky. tem mesmo, mas nenhum deles foi ocupado pelos shitposters. o ethos dessas redes não os interessa. isso exclui a possibilidade de uma ocupação? claro que não! e, se rolar, eu estarei lá postando bobagem também, mas escutem só: um bando de shitposter tá aqui no substack. elus só não estão postando takes curtos. mas o substack tem espaço pra isso no notes e minha teoria é que, aos poucos, as pessoas vão começar a usar esse espaço pra falar bobagem. é claro que temos um problema real que é a falta de política anti fascista da plataforma e isso já tem feito alguns escritores procurarem outros hosts pras suas newsletters. mas ainda estamos vivendo uma abertura de espaço-tempo em que é possível essa exata plataforma em que vos escrevo seja utilizada para shitposting. e, nesse caso, eu diria que as notas vão servir para o que eram os antigos tuítes e crescerão newsletters de comprimento médio, com uma energia dos blogs e primeiros anos de tumblr.
9. volta da foto modo paisagem
mas elas serão postadas na vertical, porque a técnica influencia a cultura.
10. mais colagens de fotos nos stories do ig
vem aí
11. queda das sad girls
com esse aqui, arranjo treta com pelo menos 60% das pessoas que conheço, o que me parece excelente, então vamos lá: já deu de sad girl. a essa altura do campeonato, todo mundo com mais de 15 anos já sofreu pelo menos 01 (um) quadro depressivo e, depois de camus2, o que mais tem pra se escrever sobre o vazio existencial?! todo mundo já pode sair de casa, o trabalho e a escola já são obrigatoriamente presenciais de novo, o sol brilha lá fora e queima bastante a nossa pele porque a mudança climática tá torando. é hora de redescobrirmos a serotonina.
é claro que gente triste sempre vai existir. e claro que mulheres tristes vão sempre dar um jeito de se romantizar enquanto são objetificadas. mas elas não serão mais sad girls, não. na verdade, a sociedade retomará as manic pixie dream girls. ou você acha que os alternas de hoje em dia deixaram de amar a ramona flowers?
12. crescerá a busca por filmes de menos de 2h e séries com mais de 8 episódios
primeiro que ninguém mais tem atenção pra ver nada com mais de 2h. segundo que 90% dos casos de filme de mais de 2h na verdade é um caso de má escrita. terceiro que se é pra ter mais de 2h, que seja uma série. mas daí, se é uma série, que a gente possa acompanhar com calma, criar tensão, interesse, tem tanta coisa sendo lançada, tem que ser alguma coisa que a gente acompanhe com calma, faça parte da vida, que a gente lembre que assistiu no fim do ano. por fim, teve greve de roteirista em 2023, então o que quer que tá pra vir vai ser em sua maioria bem mequetrefe. e eis a alquimia perfeita: as pessoas recuperam séries antigas de 22 episódios com 8 temporadas (ou vocês acham que foi coincidência que no fim do ano o povo no x começou a falar de house md?!) e redescobrem o prazer de filmes de 1h30 bem feitos!
hollywood, melhore! já temos bollywood pra filmes de 3h e kdramas pra séries de uma única temporada!
13. revival de ipods e ainda mais filmadoras
essa aqui vem da minha amiga ruiva falsa barbie e eu e raula adotamos. faz sentido, não faz? a evolução do y2k é 2008-2010. as filmadoras digitais a gente já vê em algumas produções culturais. a arvida byström tem usado com alguma frequência, a petra collins também – duas artistas que acredito que representam bem a transição do ultra alternativo pra moda mainstream. ainda lembro de cabeça das newjeans e algumas coisas dos meninos do bts com filmadoras digitais antigas, e convenhamos que, se tá na hybe, tá no mundo.
essas filmadoras também são coisas que medeiam não-coisas3 – objeto físico com o qual você pode construir uma relação, mas que ainda transforma o mundo material em imagem digital. os ipods também são isso, e ainda têm algo valoroso: pouca – se não nenhuma – tela. ninguém mais aguenta olhar pra tela e os ipods permitem a experiência de ouvir música digital sem ser obrigado a ter uma tela ligada.
14. a comunidade dos journalers volta a ganhar força
aproveitando o cansaço de telas, mais gente vai se voltar pra uma das minhas atividades analógicas preferidas: preencher cadernos. como cada um vai preencher seu caderno? existem muitas opções! hoje em dia, a moda são as morning pages (escrever assim que acorda) e os commomplace journals (literalmente um caderno pra qualquer coisa). mas temos planners, bullet journals, cadernos de estudo, junk journal, art journal, caderno de viagem, caderno de citação, reading journal, diário, caderno de sonhos… tem tanto tipo de uso pra caderno que outro dia, no tumblr, a hashtag mais vista era hobonichi techo, que é uma marca de caderno japonesa. e fui catar no tumblr uns tipos de journal e o primeiro post que me apareceu na #journal foi pornografia, o que significa que tem bastante gente usando a # pra tentarem inserir mulher pelada entre os posts! outras hashtags movimentadas são as de anotações (#annotated books, #art of annotation etc.), o que também aponta pra uma tendência de anotação analógica.
não que vocês se importem, mas sou uma participante assídua da comunidade dos caderninhos, amo falar sobre o assunto e tenho acompanhado um certo crescimento dela. particularmente, entre 2014 e 2020 costumava preencher dois art journals por ano, mantenho bullet journal desde 2017 e um diário desde a pandemia, tentei fazer um caderno de citações ano passado (tô pensando em continuar esse ano, mas não sei se vai pra frente) e, claro, tenho uns dois ou três cadernos reservados pra minha pesquisa de mestrado. eu realmente amo muito cadernos e ver os cadernos dos outros e tô animada com essa tendência sim.
15. volta da coleção de adesivos
essa vai um pouco de mãos dadas com o crescimento da comunidade dos cadernos, afinal, a gente tem que decorar nossas páginas. mas digo mais: as coleções vão ser analógicas e digitais, com uns png transparentes e tal. penso no trabalho que minha proto-amiga ohwowlulu faz de scannear adesivos, embalagens e outras coisinhas e pôr pra circular online.
16. boom da comida coreana
estamos falando de BOOM, ok? não é o aumento da procura, é que vai chegar ao ponto que todo mundo sabe o que é um bulgogi. vamos chegar na abrasileiração da comida coreana e vamos ouvir desconhecedores putos porque “é só frango frito apimentado” e conhecedores também putos porque “é apropriação cultural”. estamos falando de restaurantes coreanos serem comuns como restaurantes chineses, de toda semana ter alguém postando localização no instagram de um lugar escrito em coreano romanizado e tiktokers postarem aqueles vídeos com voz de robô contando da nova comida preferida deles que, nesse caso, é mesmo só frango frito apimentado e desafios de quanta pimenta a pessoa aguenta.
17. re-apreciação do jazz
o jazz voltou, rapaziada.
agora, se você quer ser cool e ir além dos fodásticos porém atualmente óbvios miles davis e chet baker, recomendo pesquisar mais sobre o jazz japonês. como vocês já devem saber, meus atuais queridinhos são o ryo fukui e o jiro inagaki.
18. jovens descolados migram do k-pop pro j-pop ou c-pop
sejamos honestos, o kpop não tem como crescer ainda mais, ele chegou a seu tamanho máximo. e quem é dado a ser alternativo não é mais descolado por gostar de bandinha coreana, sinto muito. o que viveremos é uma pequena divisão: alternativos mais radicais migram para o pop chinês, enquanto alternativos mais conservadores se asseguram no pop japonês. agora, se você não é dado ao pop mas é dado ao rap e não quer ficar de fora dessa onda, a cena do c-rap vale ser explorada com calma.
19. a volta da pirataria
foi lá pra 2015 que virei pra minha mãe e falei que, em cinco anos, as pessoas iam voltar a dizer “eu quero ter coisas! não só ter acesso a elas”. eu tava falando sobre uber na época, porque tava todo mundo achando muito massa isso de não ter carro mas já dava pra prever que ia chegar o momento que se descobriria que ter um carro poderia ser, desculpe-me o trocadilho, mão na roda.
pois bem. o mesmo vale para entretenimento. foi e é muito bacana ter acesso a filmes, séries, músicas e livros, mas isso de ter que depender de empresas pra poder ver um filminho é meio chato. ninguém aguenta mais a era dos streamings. acontece que, como de costume no capitalismo, ela só vai acabar quando as grandes empresas pararem de lucrar. a economia já não tá lá das melhores pra essas distribuidoras e estúdios, mas sabe qual vai ser o pé no peito delas? a pirataria. e ela tá aí. só não vê quem não quer. e digo mais: o mesmo vai acontecer com o mundo dos games. pois meu único amigo homem rafael me informou hoje mesmo que tá caro demais comprar jogo e, bicho, as pessoas encontram seus jeitinhos. nenhuma criança se contenta com os jogos de pokémon presenteados apenas em datas comemorativas e ver outros jogandos via streamer não é a mesma coisa do que você mesme sentar e jogar seu joguinho.
20. aumento da busca de recomendações feitas por humanos normais
rimando com a estafa dos streamings, outra coisa que podemos concordar que não funciona são as recomendações via algoritmo. os capitalistas tentaram, mas nada se compara à sua melhor amiga te dizendo que você precisa ouvir aquela banda. influencers também tentaram, mas hoje em dia tudo já é tão estruturado e tem tanta gente falando das mesmas coisas de sempre que influencers simplesmente não passam mais a mesma confiabilidade. nada de tiktoks, carrossel no instagram ou vídeos de youtube com dicas pra você. vem aí a nova era de ouro do boca a boca. vamos descobrir novas produções via desconhecides no discord e conversas com amigues.
21. estafa dos apps pra celular
ok, ok, esse aqui é um pouco pensamento mágico da minha parte, mas veja bem: ninguém, absolutamente ninguém, devia precisar ter um app pra cada uma das cinco farmácias perto de casa, dos três mercados que frequenta e de cada loja que compra uma blusinha pra míseros 3 a 5% de desconto em itens selecionados. é hora de nos revoltarmos. “baixa nosso app!”, “não tenho celular”.
22. a volta da bolinha como estampa clássica
tá, esse não tem nada a ver com a internet, mas é um Feeling que tenho e decidi compartilhar. estamos há anos demais nos tecidos planos, meu povo. faz pelo menos 7 anos que a aposta da moda “clássica” e “elegante” são os lisos, seja em meios mais conservadores ou mais descolados. e, quando se apela pra alguma estampa clássica, é sempre a listrinha. óbvio, essas coisas continuam. lisos e listras são considerados básicos chiques por um motivo. mas eu digo que as bolinhas vão voltar. o povo tá se coçando pra retomar os 2010, o que significa também a volta dos vestidos rodados de bolinha a la zooey deschanel. atende as patricinhas que estão vestindo vestidos florais cottagecore atrasado e os artistas hippies que podem ser confundidos com circenses. dêem seis meses e já vai ter gente fazendo a historiografia das bolinhas na moda.
23. o boom dos audiolivros
os audiolivros têm ganhado força nos últimos anos e tá na hora de rolar o boom. eles já tomaram espaço que antes era de podcasts e suspeito que até um pouco do tempo que nos dedicávamos à música. falta muito, muito pouco pra ele cair nas graças do Povo, mas esse ano vai.
devo aqui dizer que sou uma defensora de que ouvir audiolivro não é ler, mas ouvir. isso não quer dizer, de maneira alguma, que é uma atividade menos válida do que ler, é só que ler e ouvir passam por lugares diferentes. tipo, literalmente. mesmo antes dos audiolivros, quando alguém lia um conto em voz alta pra mim, nunca considerei que li o conto, mas o ouvi. é diferente. e o fato de ser diferente me leva ao que na verdade é a minha grande previsão: os audiolivros mudarão o que consideramos uma boa escrita. existe uma lógica que conseguimos acompanhar na leitura que não é tão simples de seguir na escuta. quando escutamos algo, a repetição de termos ou expressões, as frases mais curtas e a referência frequente ao sujeito da oração são bem mais fluidos e mesmo importantes pro entendimento do que raios tá sendo dito. exatamente porque ler e ouvir são atividades diferentes, as técnicas que usamos pra escrita de um livro escrito ou um livro falado também diferem e, como já estabelecemos, a técnica influencia nosso comportamento e a maneira com que percebemos algo. a facilidade de ir e vir nas páginas de um livro é muito diferente do botão de pular ou acelerar de um audiolivro, por exemplo. esse tipo de coisa, gradualmente, transforma tanto a nossa maneira de entender uma prática quanto de praticá-la. e talvez os audiolivros só sejam uma febre de alguns anos, mas se eles se cristalizam como técnica, vamos ter uma mudança da maneira de escrever e criticar histórias sim.
24. crescimento da tensão humano x máquina na política e no imaginário popular
esse aí é pra cada um pensar na sua casa
é, internautas, essas são minhas previsões para o ano que se inicia.
chegar em 24 previsões inúteis foi, na verdade, muito difícil. tanto que algumas delas são um pouco úteis. você concorda com o que eu disse? incrível! você discorda? discorde na sua casa! você concorda parcialmente? tem um adendo? tem suas próprias previsões? pois compartilhe conosco!
aproveito esse espaço de despedida desajeitada pra desejar um bom ano a todes por aqui! e também vamos ser cara de pau e lembrar que um jeito incrível de se dar um presente pro ano inteiro e ainda cumprir a sua resolução de apoiar artistas independentes é assinando a versão paga dessa newsletter!
bjoks,
clara
já existem ~reports sobre o humor absurdista da gen alpha, mas defendo que isso é só humor de criança e qualquer geração com acesso a internet faria umas coisas sem noção aos 7-12 anos. precisamos esperar ainda uns anos pra entender o que raios gerará o cérebro derretido dos mais novos
não que eu tenha lido camus
ref: não-coisas, do byung-chul han (livro que só li o primeiro capítulo, mas que já deu pra sacar a pira)
feliz ano novo claraaaa!!! particularmente no meu mundinho, o story de corrida de rua já é tendência desde lá pra 2021, acho? mas mal posso esperar pra quando as genz cortarem os cabelos e pararem de fazer app pra tudo
é final de fevereiro e venho aqui eu mesma registrar que o grande sucesso do ano será a hello kitty. eu sabia que o garfield não fazia tanto sentido porque ele foi o sucesso da rapaziada uns anos atrás e ele tem um rancor que não estou Sentindo no mundo, MAS eu não achava que a hello kitty que voltaria, achei que ela tinha chegado ao seu máximo e se mantido por lá. erro meu. devia ter pesquisado também que a hello kitty faz 50 anos esse ano e isso teria impacto.