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futuristas também tocam na grama
gente que enfia planta no nariz, futurismo híbrido e algumas fotos que podem gerar faniquito
🛸 olá, internautas! 🛸
depois de me esforçar muito pra escrever sobre o fim dos memes e fazer vocês se esforçarem mais ainda pra ler 18 páginas sobre hipergêneros discursivos, hoje venho mais leve e com menos pesquisa. afinal, não é todo dia que queremos ler ou escrever uma versão descontraída de um artigo acadêmico. aliás, eu diria que ninguém nunca quer ler ou escrever qualquer versão de um artigo acadêmico. o trabalho não dignifica ninguém, afinal de contas. então, hoje, vamos falar de algo mais leve e divertido. vamos falar de gente colocando planta dentro do nariz.
a supinatra, na vdd, se chama Maria Luneva e ela é uma artista russa que conheci por causa do trabalho de outra artista russa, a @polinatammi, que não põe flor dentro do nariz, mas faz uns cacarecos de vestir MUITO bacanas. enfim, hoje não é dia de falar da polina. sigamos com a supinatra.
como disse, a conheci via instagram e fiquei meio fascinada com a maneira que ela trabalha elementos naturais e artificiais. numa entrevista pra vogue italia, ela conta que trabalha “com elementos naturais mas os contextualizo em situações diferentes e mostro essa interação através da fotografia”. a entrevista foca muito na relação da artista com a natureza e com a moda (é a vogue, afinal de contas), mas o que mais me interessa na obra dela é uma mistura do que ela chama de “elementos naturais” com algo que vou chamar aqui de “elementos futuristas”. essa combinação não acontece sempre (vide o nariz sangrando orquídea), mas quando acontece é muito interessante.
pra mim, esses trabalhos têm um quê de arte digital de realidade aumentada. pense naqueles filtros de RA que faziam sucesso em 2018/ 2019. a capa do charli, da charli xcx. o trabalho da charlotte rutherford. as @s visualize.mee e neosoda. a capa de portals, da melanie martinez. toda essa galera (e muitos, muitos outros!) trabalham com essa ideia de modificações no corpo através de realidade aumentada.
é claro que a ideia de modificar o próprio corpo não é nova. já faz tempo que existe a galera do body modification e é até ridículo dizer “faz tempo” ao se falar de povos originários que carregam essa cultura de modificar seus próprios corpos desde que existem humanos. no fundo, a gente só vai encontrando novas maneiras de transformar nossos corpos. mas o que acho interessante do caso do RA é que é algo plenamente digital. faz parte do conceito. só dá pra “aumentar” a realidade porque saímos dela e entramos no plano da virtualidade. mas agora temos essa virada de artistas que voltam a modificar os corpos (mesmo que momentariamente) não com as referências da história de body modification, mas a cultura visual vinda de arte de RA.
a supinatra não tá sozinha. outro caso que acho muito foda é da @hallofstars, que trabalha principalmente com espécies de “luvas naturais”. ou seja: ela cobre os bracinhos de plantinhas de um jeito esquisitérrimo.
outra que faz isso é a aksinia radetskaya, que é estilista de unhas e também tem usado bastante flores e outras plantas no trabalho dela.
já faz alguns anos que parei de encarar as coisas na internet ou criadas via internet como movimentos e passei a ver como enxames. essa é uma conversa mais longa, mas o resumo é meio que não dá pra chamar de movimento porque nada disso é propositivo e nem tem senso de unidade. é claro que dá pra debater isso e tal, mas esse não é o momento pra isso e vocês podem simplesmente ler no enxame - perspectivas do digital, do byung-chul han. meu ponto aqui é só que acho difícil ver esse tipo de trabalho como um movimento, mas acho interessante de considerar o que ele reflete.
afinal, a gente tá falando da correlação entre dois elementos que, na nossa cultura ocidental baseada no iluminismo e modernismo europeu blabla, estão colocados em oposição. por mais que tenha muito papo sobre o que raios é o antropoceno e maneiras decoloniais de se relacionar com tudo no mundo, a nossa cultura visual ainda remete futurismo a elementos de alta tecnologia e digitais, e elementos naturais são relacionados a uma “volta” a um passado em que não tínhamos esse tanto de tecnologia digital e industrial.
então, quando chega esse enxame de artistas, uma luzinha faz PIN! no meu cérebro. afinal, estamos falando de pessoas que estão construindo visualidades futurista com a coisa mais natural que temos: as plantinhas.
o que significa então se apropriar dessa estética e imaginário futurista com plantas?
a minha cabecinha fflchenta vai direto pra um futuro decolonial. e eu não acho que essas pessoas estão pensando nesses termos, não, até porque muitas delas são europeias e estadunidenses e, com todíssimo respeito, é muito difícil ter europeu e estadunidense decolonial de vdd vddr. mas eu não consigo deixar de pensar nessa tentativa - que acredito que tem sua vertente em todo canto do mundo - de refazer a relação humano-natureza. as plantas se aproximam a ponto de se tornarem parte do nosso corpo. estamos na natureza. somos natureza.
como disse, minha cabecinha é fflchenta, então sinto aqui uma vontade de fazer uma análise otimista e idílica que entra em filosofias indígenas, africanas e asiáticas que assumem tudo como natureza, sem uma hierarquia de centro-periferia como acontece com o antropoceno (ou capitalceno kkkk). mas talvez nenhuma dessas pessoas tenha tido tempo pra pensar isso tudo e ler e associar essas questões. a gente demora pra aprender coisas.
ao apresentar sua série de 2022 “Second skin”, a supinatra diz em seu portfólio:
Essa é uma história sobre a tentativa de proteger a si e se proteger da hostilidade do mundo arredor com a ajuda de camadas extra de vegetação, o que, paradoxalmente, substituindo partes do corpo, revela sua vulnerabilidade e fragilidade. A série mais reflete o desejo de transformar a planta em animal como forma de sentir a diversidade e unidade dos elementos naturais através dessa metamorfose.
então, ok, não vou me prestar a dar uma de zizek aqui, mas também acredito que esse enxame reflete sim a crise ambiental. afinal, dá pra fazer a volta argumentativa de que a supinatra tá aproximando a exploração dos recursos naturais e a exploração do trabalho humano. o negócio é que essa é uma volta longa que não quero fazer aqui. mas dá. a gente pode dar uma de zizek sim. e, por mais que a gente não possa chegar totalmente nessas outras ontologias decoloniais, podemos falar em buscas por elas. são tentativas de construir um futuro em que as pessoas estão junto com a natureza, e não contra ela. um futuro em que somos a mesma coisa. pra mim, essa é a metamofose da qual a supinatra fala.
de uns meses pra cá, desenvolvi o costume de mandar umas coisas doidas de moda que vejo pra uma amiga da minha mãe (e minha, por extensão) que é professora de design de moda. numa dessas, ela jogou assim bem jogado o termo “futurista híbrido”. tentei catar mais sobre o assunto, mas a ideia ainda tá nascendo e, quando cê cata o termo na maioria das plataformas de pesquisa, só aparece coisa de carro. também voltei a falar com essa amiga, mas ela mesma não tem muita coisa pelo mesmo motivo - é um termo em construção. mas, de qualquer forma, fiquei com isso na cabeça.
quando falamos sobre o assunto, na verdade, estávamos falando do look da HYDRA no brits awards. o look não tem nada a ver com as plantinhas que tô falando aqui, ele é muito mais voltado à uma maquiagem de efeitos especiais que faz parecer que têm umas pedras ou fungos saindo dela. nesse sentido, lembra mais a capa de portals, da melanie martinez. tem umas coisas bacanas, mas acho estranho chamar de híbrido, quando é tudo maquiagem e prótese.
de certa forma, ele é quase que o oposto do que eu gosto no povo das plantinhas, porque usam algo criado por humanos (e duvido que ok pro meio-ambiente, mas eu real não sei) pra dar a ilusão de uma bizarrice natural. enquanto o que tem me interessado é o oposto: gente usando o que a natureza nos dá pra criar uma estética futurista. de certa forma, os dois estão cansados da vida como ela é e apostam na natureza como saída. mas um é a imitação da natureza e o outro é a natureza de fato. é como se tivesse uma briga aqui mais uma vez e eu conseguiria falar sobre como isso tem a ver com o capitalismo e lógica digital, mas o texto agora tá longo e eu tenho que escrever minha dissertação.
então, o que vou dizer é que vendo essa galera colocando plantinhas no corpo, eu fico igual a supinatra: querendo enfiar umas flores no nariz. por sorte ou azar, eu não moro mais no mato.
a propaganda do dia é pras BRUXAS que lêem a newsletter! vão fazer a reimpressão do Tarotwave, que é um tarot vaporwave muito lindo. as cartas são baseadas no tarot de marselha, mas com interpretações do que elas seriam na estética vaporwave, juntando elementos de espaço e glitch art. é o tarot que uso e amo DEMAIS ele. bom pra quem tá aprendendo e quem já manja do assunto. a carta da roda da fortuna é meu fundo de tela do celular desde 2018. cê pode ter o seu apoiando o kickstarter do tarotwave.
a seguir, vou colocar algumas fotos da supinatra que gosto muito mas que podem sim causar faniquito ou tripofobia. então, se você tem nóia com imagens, nos despedimos aqui!
de agora em diante, imagens que podem dar faniquito!
as fotos são do portfólio, o ensaio na Vogue Italia e recomendo MUITO o penúltimo vídeo do ensaio na Trailblazer Magazine, que infelizmente não consegui colocar direto na newsletter.
e essa aqui é ela!!!
espero que tenham gostando tanto quanto eu!
bjoks,
Clara
futuristas também tocam na grama
Eu não ironicamente adoro essa estética pessoa mix de folhas. Obrigado por trazer essa estética com imagens descritas
uuuuoooooolllllllll adorei cada segundinho desse texto, Clara! Que referências legais que você traz! Feliz de ter assinado =*