🛸 olá, internautas! 🛸
tenho pensado sobre muitas coisas, mas nunca concluo um pensamento. gostaria de me convencer de que pensamentos não se concluem – seguem enquanto nossa consciência segue também. mas não é isso. não estou nesse estado filosófico apesar de ter acabado de usar “estou” em vez de “tô” – o tipo de coisa que só acontece escrevendo ou quando um brasileiro que não pensa muito em linguagem tem que responder pra um gringo como se fala alguma coisa em português [insira aqui alguma fã de epik high decidindo traduzir i'm sad pra eu estou triste em vez de tô triste e eu e minhas amigas confusas com essa escolha]. não, não é isso. eu nunca concluo um pensamento como no pior da internet. como alguém que pula de link em link mas não tem o histórico pra voltar atrás. como alguém que cria caminhos que não sabe retomar. como alguém que tem 52 abas abertas somando as do computador e do celular.
já faz alguns meses que tenho investigado com meu terapeuta a possibilidade de eu ter tdah. faz tempo que tenho reclamado de falta de memória e dificuldade de concentração, sem contar que eu penso muito, tipo, muito mesmo. muito de um jeito assustador. e não é necessariamente bom ou ruim, é só como é e foi muito doido descobrir que outras pessoas não são assim, mas esse susto já passou faz tempo. o ponto é que investigar a possibilidade de um diagnóstico de tdah nos fez conversar sobre como eu lembro de pensar quando era mais nova. quando foi que minha cabeça virou uma enxurrada de pensamentos? e quando foi que esses pensamentos pararam de interligar? eu penso muito desde sempre, acho, mas o jeito que tenho pensado mudou muito. e quando meu psiquiatra me perguntou quando que percebi essa mudança a resposta óbvia que me veio à cabeça foi: quando comecei a usar mais intensamente a internet.
antes, era uma navegação. eu percorria caminhos, tinha descobertas. um passo levava a outro e a outro e era assim que chegava em novos lugares. às vezes, eu sabia já os passos, era como quem pega o barco pra descansar.
agora, é como mascar chiclete. alguém te oferece e você aceita e daí masca daí acaba o gosto daí cê faz uma bola e volta um pouco o gosto e fica meio nessa até que acaba daí cê cospe mas fica estranho então cê compra chiclete e masca outro e agora você vai ficar infinitamente nisso. e ainda por cima vai ter fome.
a internet como tá hoje em dia mais me mói do que eu a masco. mas a sensação de uso é tipo o chiclete. às vezes útil, às vezes inútil, nunca boa. mas tem um vício, uma facilidade de recorrer àquilo. eu não sei. nem existe um paralelismo entre navegar e mascar chiclete, mas eu disse, eu não concluo um pensamento mais. eu só abro os mesmos aplicativos, os mesmos sites, eu vejo vídeo do youtube no pc enquanto rolo a tela do instagram no celular e não vejo nada mas meus ouvidos ouvem alguém falando e meu dedo dói da tendinite. e com todo mundo que falo sobre a sensação da internet fala a mesma coisa: antes a gente navegava, agora a gente usa. é tão diferente! e eu penso: devia escrever sobre isso, quero escrever sobre isso, tem algo a mais aqui pra dizer, mas minha cabeça só diz: neoliberalismo., e fica por isso mesmo, porque agora já tô duvidando de por que raios fui fazer uma newsletter sobre internet se tudo meio que se repete, se eu só queria jogar a carta do neoliberalismo/ capitalismo e convocar todo mundo pra quebrar tudo. ainda dá pra fazer isso.
se a internet acabasse amanhã, meu primeiro pensamento seria: ai meu deus qual a última versão da minha dissertação que tenho off-line?. minha amiga riu e disse: amiga, acho que você teria coisas mais importantes pra pensar., mas eu não entendi e ela então me lembrou o tema da minha pesquisa: a própria internet. sem internet, como se fala de internet? daí, né, eu ri. e pensei poxa vida imagina que louco não ter mais internet e ter que falar disso como algo que existiu mas que a gente não tem muitas provas? uma coisa que é meio um grande Confia No Pai. é assim que quem estuda as coisas das priscas eras se sente? mas, sei lá, pelo menos safo tem uns fragmentos pra provar que cê não tá completamente insano.
com o perdão do trocadilho, bato muito na tecla de que a internet é física. ela é feita de cabos, metais, plástico, vidro. ainda assim tem umas coisas que tem gente que só explica chamando de alucinação coletiva. e eu até falaria disso, mas minha cabeça começou a tocar elis regina porque me confundi e achei que era alucinação mas na verdade a que ela canta do belchior é fascinação. e vai ver é por isso que sempre coloco sc quando é só c na palavra alucinação.
pra ser honesta, não curto muito belchior. e li agora a letra de alucinação e ele diz que não tá interessado em teoria mas quer amar e mudar as coisas. porra, bicho, sem teoria, cê nem sabe nomear a realidade. que bobajada ter que separar pensamento de ação. parece que ninguém nunca ouviu falar de práxis. é só ler metade de um livro do paulo freire.
essa noite espero não sonhar que estou comendo vidro. depois da internet, falar vrido e tistreza virou meu default.
bjoks,
clara
estou tão absorto em seus pensamentos pensados aqui. uau