🛸 olá, internautas! 🛸
mais um mês se passou e eu vi, li e ouvi coisas que povoaram minha cabecinha. depois de um mês muito difícil, março teve um quê de voltar a me estabilizar. li um dos melhores livros da minha vida, decidi assinar o (a? le?) mubi pra ver se volto a gostar de filmes e ainda fui na vernissage da marina sader, na galeria luis maluf!
também usei minha insônia pra organizar todas as fotos do meu celular, e as imagens dessa edição são todas da minha galeria de fotos.
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livros
Leaves of Grass; Walt Whitman
precisou apenas da primeira estrofe pra eu saber que esse seria um dos meus livros preferidos da vida. tenho tanto a dizer que mal tenho palavras. foi uma das obras mais fortes e interessantes que já li, e durante a leitura eu já tinha certeza de que vai ser um texto que vou reler muitas vezes.
pra já tirarmos antonio candido & cia da frente, uma das coisas mais curiosas do livro pra mim foi como o walt whitman consegue estabelecer o ethos estadunidense no livro. todas as questões sobre “a terra dos livres”, liberdade de expressão e uma visão muito específica do que é um governo democrático estão ali, mas o que me assombrou de verdade é como parecem coisas boas. como latino-americana que pensa sobre latinidade, sul global e processos de colonização, esses papinhos estadunidenses me cansam demais, principalmente porque é tudo paia. mas a construção narrativa e poética do whitman tiram todos os clichês estadunidenses e consegue realmente estabelecer a liberdade como comunhão, o que é MUITO bonito.
tem coisas materiais no texto que fazem essa construção dar certo. o whitman costuma preferir termos mais abrangentes para falar de coisas específicas, como “guerra” pras guerras de independência e civil estadunidenses, poucas vezes se referir à língua inglesa, mas sim à linguagem, e meu preferido, que é usar “terra” [land] em vez de “país”. além disso, ele usa os versos livres e rimas internas como maneiras estéticas de costurar ideias que costumam ser separadas, chegando ao ponto de igualar binários ocidentais como bem e mal, vida e morte etc. mas isso aqui só sou eu mostrando que aprendi alguma coisa durante a faculdade, porque, pra ser sincera, isso foi o de menos na minha leitura.
o otimismo e a positividade de waltinho são TÃO fortes que se sobrepõem a tudo. a primeira estrofe (a minha preferida, sem dúvidas) estabelece isso muito bem:
I celebrate myself
And what I assume you shall assume,
For every atom belonging to me as good belongs to you.
o livro é mesmo a celebração de tudo que existe: todas as pessoas, a guerra e a paz, toda a terra, a natureza e todas as invenções humanas, a vida e a morte. é um livro inteiro sobre como tudo no mundo é uma coisa só e que a gente deve celebrar isso, celebrar tudo. as partes boas e as partes ruins.
o whitman vai desenvolvendo os exemplos e as possibilidades do que significa ser tudo no mundo. de certa forma, me lembrou muito a minha pira de adolescência de querer ser todas as pessoas e todas as coisas. era uma sensação de não conseguir me contentar comigo mesma e precisar de Tudo e de Nada, e esse livro pra mim é muito uma versão desenvolvida dessa pira. isso tem a ver com muito do que penso hoje em dia, que é exatamente essa consciência do universo como uma coisa só. todos os meus átomos também pertencem a você. a quem me lê e não me lê. a desconhecidos. às arvores em frente à minha casa. às árvores que nunca verei na minha vida. à terra, à água, a todas as partículas que existem e se transformam. a todo o universo. incluindo o cocô de pombo.
e o waltinho consegue encarnar isso na escrita dele. tá no ritmo, na cadência, nas rimas internas, na linguagem direta e coloquial que ele usa. você começa a ler o livro e vem uma sensação fisiológica de falar aquelas palavras em voz alta, de fazer aqueles traços de letras virarem som no mundo. é uma força muito impressionante, como é a força da vida e da morte. e é até estranho dizer todas essas coisas desse jeito aqui, mas é essa a sensação. é um arrebatamento do amor à existência. e é foda.
um trecho aleatório que grifei: “It is not chaos or death…. it is form and union and plan…. it is eternal life…. it is happiness.”