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internet policentralizada

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internet policentralizada

não existe internet descentralizada, mas existiu a cybersyn e um tom meio manifesto comunista surpresa no final do que escrevi

Clara Browne
Jan 5
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🛸 olá, internautas! 🛸

a internet não pode ser considerada descentralizada quando ela está nas mãos de algumas empresas. chamemos de policentralizada ou, vai, pancentralizada. arrisco mesmo uma oligarquia, apesar de conseguir escutar a mão batendo na mesa de bar, a voz exaltada discutindo comigo. o importante é que não podemos nos iludir: há centros, há mandantes, donos, controladores de fluxo e de material na internet que conhecemos. eles estão em todos os níveis do que forma o digital. quem faz os computadores, celulares, modens, os cabos que perpassam o mar, as torres que captam e emanam sinal, o mundo não é tão sem fio assim. ainda existe materialidade e essa matéria tem dono. os imensos galpões que chamamos de nuvem, todo o silício explorado e as fábricas que o transformam em máquina.

às vezes falam tanto que me pergunto: o que é a internet? é uma estrutura. mas usamos essas palavras: rede, conexão, nuvem, dado, globo. as imagens bonitas das metáforas confundem e é tão fácil se deixar levar. castells, eu brigo todos os dias com você, mas no fundo eu te entendo. porque eu também caí e caio na mesma armadilha, na mesma rede. a rede mundial de computadores. eu queria um dicionário. eu queria algo que fizesse das palavras algo material. mas que me perdoe meu amigo iuri, que tanto insiste que palavras significam coisas: palavras não significam nada.

ainda assim venho aqui brigar, gritar, transformar pensamento em dado. beijo minhas mãos torcendo para que venha o número 6, para que eu vença esse jogo. mas não venço. estou aqui implorando para que mudemos os termos (palavras significam coisas? não sei, mas significantes têm significados). aqui, no que não é bem um lugar, mas que toma um espaço gigantesco, que destrói o mundo, que afeta a vida de todos os seres vivos e não vivos na Terra. eu tive que jogar no google: “internet significado” pra ver se conseguia usar palavras que fizessem sentido, que não soassem mágicas e maravilhosas, não consegui. mas depois de um ano de leitura especializada eu sei, eu sei, eu preciso saber que isso aqui é material. corre na família que sou sobrinha tataraneta do karl marx, o sobrenome é o mesmo, a região, a mesma, minha tia diz que eu devia contar mais isso pras pessoas, pra persuadir corações de esquerda a beijarem a minha boca. não falo nada, deixo como esses mitos de família, mas faz sentido, não faz? a sobrinha tatatataraneta de karl marx apelar para o materialismo.

a verdade é que nunca li marx. um dia vou ler, prometo, tudo ao seu tempo, não esquenemos com isso. nunca li muitas coisas que dizem fundamental. mas li um livro tão curto que podia ser um folheto, a coisa mais poderosa que já li sobre a internet, a ideologia californiana. é copyleft, é pra todo mundo ler também. é sobre como a internet foi criada a partir do encontro dos militares estadunidenses com os hippies sem consciência de classe, essa coisa que deu no neoliberalismo particularmente esquisito que vivemos hoje em dia. os autores tentam traçar essa linha de origem, uma explicação, um aviso de cuidado. eles descrevem e analisam tão bem que dá vontade de grifar o livro inteiro. terminei igual o tim maia depois de ler universo em desencanto. leia o livro. read the book, the only book.

foto do tim maia felizão no auge da fase racional segurando o livrinho e vestindo a camiseta do universo em desencanto. ao fundo, uns pôsteres da seita. todas as imagens do livro foram trocadas pela capa de "a ideologia californiana". a foto é toda em preto e branco, o que contrasta com o rosa claro da capa do livro.
“lendo atingi o bom senso” MAIA, Tim.

aprendi com minha amiga livia que houve uma tentativa de uma outra forma de internet. a cybersyn foi um projeto criado durante o governo do allende no chile, encabeçado por stafford beer e escrito por um time de programadores chilenos com consultores britânicos. a proposta era criar uma rede de computadores que comunicavam as fábricas a um centro de computação, de maneira que os trabalhadores pudessem se comunicar entre si e atualizar em tempo real ao governo suas necessidades. o projeto permitia, ao mesmo tempo, independência aos trabalhadores ao mesmo tempo que ajudava o estado a fornecer os recursos necessários a seu povo. obviamente, o projeto foi destruído com o golpe militar.

tem muita coisa interessante na história da cybersyn que me prometi ler

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, mas o principal é que a internet poderia ser diferente, ainda pode ser. às vezes é difícil entender isso, é tão fácil se perder entre os aplicativos e qr codes, tão fácil acreditar que precisamos inserir nossas informações para que elas virem dados a serem consumidos e vendidos por empresas com nomes fantasma e outros conglomerados de tecnologia. mas a realidade é que temos a internet que temos porque um grupo muito pequeno de pessoas ricas e poderosas decidiram que assim seria, que essa seria mais uma maneira de nos explorar. e todos nós caímos no conto do vigário. todos nós acreditamos na promessa de união, partilha e horizontalidade. mas quando a gente olha pra trás está ali o controle e o capital. nada disso é descentralizado, muito pelo contrário. o centro é o mesmo há séculos: são os capitalistas. de alguns, sabemos os nomes. outros ficam silenciosos. mas eles existem e se beneficiam da exploração de recursos naturais e humanos (dá pra diferenciar essas duas coisas? vocês entenderam).

web 1.0, web 2.0, web3 – tanto faz. todas fazem parte da mesma estrutura que foi erguida na guerra contra o comunismo. e eu nem vou entrar aqui no mérito de ser comunista ou escolher qualquer outra vertente de esquerda, isso aqui não é craft pendurado na fflch. independente disso, é insano uma estrutura global como essa ser construída inteiramente na base da exploração e a gente conseguir ignorar isso.

tem gente que pode perdoar o castells no começo dos anos 2000 por ter se encantado com tudo isso. mas se passaram 20 anos, olha tudo que se passou. tirem esse cara da bibliografia. talvez seja hora de olhar com mais carinho pros anarquistas e punks. pregar a destruição de tudo depois dos governos que tivemos não dá mais. mas todo momento pode ser uma reconstrução. a vida é mudança e a gente é vida.

feliz ano novo


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9:48 PM ∙ Jan 1, 2023
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para mais, a livia me recomendou a seguinte bibliografia: MEDINA, Eden. Cybernetic Revolutionaries: Technology and Politics in Allende’s Chile. Cambridge, Massachusetts London, England: The MIT Press, 2011.

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