🛸 olá, internautas! 🛸
admito que tô caindo na clássica armadilha de usar uma palavra ironicamente e daí começar a virar de verdade. aconteceu com top, zap, meu benzinho, e agora tá acontecendo com X.
ainda não consigo falar ou escrever X e não dar risada. foi, inclusive, muito estranho escrever o parágrafo anterior e não mandar um kkkkkkk logo em seguida. mas saibam que rolou na minha cabeça. a primeira pessoa que vi falar do perigo de falar X em vez de tuíter foi a musicista, influencer e amiga que deixou o X, aria rita. eu até ia colocar um print do tuíte que ela fala isso, mas ela tuitava muito e minha tendinite tá atacada demais e eu tenho tempo de menos1 pra entrar nessa busca. mas é. primeiro foi ela. depois, tive uma reunião com minha orientadora, a qual, depois de ouvir 40min de um solilóquio sobre o filme da barbie, me perguntou: E O X HEIN?! e nós duas rimos. tanto com ela quanto com uma das minhas amigas lauras (essa que, no caso, também é orientada pela mesma prof que eu) falamos a mesma coisa: po, a gente ri mas isso tem impacto. é idiota, mas a mudança carrega um significado. outro dia a laura me ligou falando meio exasperada: você viu que não é mais retuitar? agora é repost?! isso é muito significativo!!!. eu tinha reparado e também ficado muito impressionada. pra ser bem honesta, a mudança do botão tweetar pra postar e retweetar pra repostar me impactou muito mais do que o dia que acordei e meu aplicativo tinha mudado pra X. nesse dia, na verdade, só soltei um grunhido, fechei meu celular e voltei a dormir. ninguém merece ter que pensar no elon musk no momento em que acorda.
aliás, ninguém merece ter que pensar o elon musk, de maneira geral. então vamos falar muito rapidamente dele em um único parágrafo:
o musk tá apagando tudo que é tuíter pra ter a rede dele. primeiro, ele comprou o tuíter. daí ele demitiu geral. daí ele mandou mudar o funcionamento do algoritmo do tuíter. então, é claro, fez o povo pagar pra ele. daí, ele mudou o nome da rede. e, agora, ele mudou as maneiras de se referir ao conteúdo da rede.
tem até bastante coisa que dá pra falar sobre isso, mas o que me pegou de verdade verdadeira é o X da questão.
o X da questão
um post é um post em qualquer rede social. qualquer pessoa posta. um post pode vir de qualquer lugar. se posta no facebook, no instagram, no tumblr, no tiktok, no reddit, no linkedin, em blogs. você viu o que elu postou?, alguém pergunta, e se não existe um contexto na conversa, cê pergunta de volta: onde?. alguns posts têm nomes: snap, bereal. mas o verbo segue o mesmo: postar.
existem poucos lugares da internet onde não se posta. se escreve e envia newsletters. se sobem vídeos no youtube. se soltam episódios de podcasts. se publicam matérias e notícias em jornais on-line. é curioso como só jornais e revistas costumam usar um verbo que não é relacionado ao digital, como jornalistas e editores ainda se apegam ao analógico. também é curioso como música opera de uma maneira particular: são lançadas ou dropadas. mas não vamos nos apegar a isso, não. fiquemos nesse espaço digital de texto, imagem e vídeo.
podemos forçar um pouco a barra e dizer que tudo no digital é post. o post é a forma. é o que estrutura o famigerado “conteúdo” de uma maneira que podemos reconhecer que aquilo é algo publicado na internet. se é um post, você já sabe que a internet está envolvida. posts podem conter texto, imagens estáticas, imagens em movimento (gifs!), vídeos (lembrando: estamos deixando de lado o áudio aqui).
dessa forma mais generalizada, desenvolvem-se alguns gêneros – como shitposts, selfies, correntes, memes, reacts, e assim por diante. todos são posts porque são formatos que surgem on-line e, como estabelecemos, tudo no digital é post. mas alguns posts passam a ter uma estrutura única que, quando usadas vezes o suficiente (e na internet tudo é usado milhões de vezes), conseguimos reconhecer como algo próprio. um desses gêneros é o tweet.
sabe quando você bate o olho num papel e Sabe que aquilo é um panfleto ou um cardápio ou um pedido de pix? pois bem, o mesmo acontece com um tuíte. você olha praquele print e Sabe que é um tuíte, mesmo sem nunca ter entrado no site/ app. por parte, é uma questão de design, da gente reconhecer como são apresentados os posts no tuíter. mas mesmo sem isso, existem certas coisas que reconhecemos: o texto curto, direto, costumeiramente tem uma punch line no final e assim por diante. dá pra ficar um tempo nisso, mas não vim aqui pra definir o que faz do tuíte um gênero do discurso. na verdade, vim aqui falar de como o elon musk quer muito que o tuíte deixe de ser um gênero discursivo.
o elon musk quer muito que o tuíte deixe de ser um gênero discursivo
eu acho muito que valia uma pesquisa real pra gente entender como o tuíte conseguiu se tornar um gênero discursivo, porque com certeza tem mais de uma razão pra isso acontecer. mas um dos motivos definitivamente é que o botão para publicação chamava tweet. também vale que tweet já era um verbo e substantivo em inglês. então, não é que o jack dorsey criou uma palavra nova, ele só pegou um termo que já existia e aplicou pra uma coisa diferente, mas que funciona metaforicamente. afinal, falar uma coisa assim rapidinho tem um quê de piar mesmo. enfim! independentemente de todos os motivos que fizeram tuitar virar um verbo e tuíte virar um gênero do discurso, o que importa pra gente é que aconteceu. e aconteceu em grande parte porque isso já tava imbuído na plataforma. a plataforma fez sucesso, os usuários adotaram os termos, o resto é história.
daí eis que chega o elon musk. comprar a plataforma, demitir todo mundo, quebrar todo sistema de segurança dos dados dos usuários, mudar o sistema de verificação e, portanto, a hierarquia dos usuários, mudar significativamente o algoritmo a ponto que o alcance de um tuíte seja minúsculo a não ser que você pague pra empresa… até aí tudo bem2. todas essas coisas mudam o funcionamento da plataforma, mas você ainda meio que pode seguir tuitando. pra ser honesta, tirando o algoritmo de engajamento/ distribuição de publicações, eu diria que o tuíter seguia sendo o tuíter. e mesmo essa mudança de algoritmo não é algo tããão diferente assim do que o instagram faz de 6 em 6 meses, por exemplo. é babaca, mas não é o que faz uma rede deixar de ser reconhecível como tal.
mesmo a breve mudança do passarinho pro doge3 e depois a bobagem de mudar praquele logo feio e chamar o app de X. o domínio do site continua sendo twitter. as pessoas ainda meio que chamam de twitter e quem fala X ou faz porque é obrigado (sinto mt, jornalistas) ou fazem que nem eu, totalmente pelo ódio e depreciação de um homem podre, com uma entoação tão envenenada que é impossível uma pessoa achar que o que quer que seja o tal “x” seja algo bom e bacana. MAS!!!! quando o musk muda o botão de TWEET pra POST…. mis amigues!!!!!!!!!
como já estabelecemos, um tweet é algo específico. não dissemos qual especificidade exata de um tuíte, mas podemos concordar que é. não é à toa que tanta gente ficou revoltada quando o trump decidiu comandar um país inteiro pelo tuíter. até o bolsonaro fez live, sabe? tirando o fato de que a internet não é o lugar pra exercer cargo de presidente (e nem muitos outros cargos) e que a maioria dos trabalhos simplesmente não têm como ser feitos completamente pela internet (especialmente o de presidente da república!!!!), uma das indignações das pessoas (eu inclusa) é que era o tuíter. se eu não consigo expressar meus sentimentos quanto a house no tuíter, imagina informar decisões estaduais!!!!!!
tuítes têm uma estrutura. tem um jeitinho de dizer as coisas que funciona, que faz sucesso, que alcança mais usuários. não dá pra escrever como uma frase normal, cê tem que organizar as coisas. assim como um haiku tem um jeitinho, o tuíte também tem o seu. e é isso que faz a gente saber que é um tuíte mesmo quando não foi informado. mesmo quando alguém só repete uma piada dizendo “é como ume amigue disse…” – o ritmo, o tamanho, as palavras, a estrutura, você sabe que aquela pessoa não disse em voz alta na mesa do bar. ela tuitou. mas agora não se tuita mais, se posta.
agora não se tuita mais, se posta
com licença, vou escrever aqui uma frase complexa. por favor, prestem atenção:
palavras podem até não significar coisas, mas elas definitivamente apontam para certas filiações a partir de suas conotações semânticas!
bonito, né? com isso quero dizer o seguinte: trocar tuitar pra postar importa. porque o que o musk fez com isso é dizer que, bom, não existe mais tuíte. ninguém mais pode tuitar porque essa ação não existe mais.
e, bom, faz sentido dado que tudo que o musk tá tentando fazer desde que comprou o tuíter é destruir o tuíter4. mas o LOUCO pra mim é que, nessa de destruir o tuíter, ele não criou nada. na verdade, ele só fez o tuíter virar mais uma rede genérica, chata e desnecessária. não só porque as pessoas mais importantes saíram e porque ele zoou o pouco que funcionava de lá, mas também porque ele meio que tirou a última coisa que faltava: a ação. sem tuitar, o que você vai fazer no tuíter? ou melhor, no x? você posta. e sabe onde você pode postar? em qualquer outro canto da internet. não existe nada mais que diferencie aquele espaço virtual de qualquer outro. estar ali é a mesma coisa que estar em qualquer outra rede online.
agora o que me admira de verdade é que ele conseguiu fazer exatamente o que indica o nome que ele escolheu. postar na rede dele virou…. X.
antes de ir, um breve ✨ informe ✨
a notícia de que agora tudo que é postado no tuíter/x vai alimentar uma inteligência artificial que sabe-se lá o que vai fazer foi demais pra mim, então oficialmente saí do tuíter. minhas 3 contas deletadas. rip. imagino que vou falar mais sobre o assunto em outra newsletter, mas agora o que importa é que, se por acaso você me seguia no tuíter e sente minha falta, a gente ainda pode se encontrar pelas seguintes redes:
instagram, onde atualmente mais posto. na real, acho que mando mt bem no ig, tudo que posto é bonito e divertido e juro que faço boas enquetes. mais gente devia interagir comigo por lá!;
bsky, que não uso e tô pensando em continuar assim, mas por enquanto tá lá;
pinterest, que na real é a minha rede social preferida e recomendo mt que me sigam;
goodreads, onde eu exclusivamente faço shitposting de livros e gostaria muito de ser reconhecida por esse trabalho;
spotify, que aparentemente é uma rede social?? e eu não não colocaria aqui, mas genuinamente mando muito bem nas minhas playlists;
- , minha outra newsletter aqui no substack, de ensaios pessoais;
tumblr, mas esse só quem sabe sabe.
aliás, a minha regra é assim: eu sou sempre BrowneBrownie/ brownebrownie quando quero ser achada. se não me achou em algum lugar desse jeito é porque não tô lá ou não quero que me encontrem!
como sempre, fiquem à vontade pra comentar/ responder essa newsletter! adoro ler e conversar com vocês! se você quiser e puder apoiar a intern3t!!11 financeiramente, vou amar muito! esse apoio é uma das coisas que me permitem continuar a escrever aqui.
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por hoje é isso! até a próxima!
juro que tô escrevendo minha dissertação!!!!!!
humor. nada disso tá bem, não.
deus, POR QUÊ?!?!?!!?!?!?!? em que ano esse homem vive?!?!?!!?
na vdd, eu tenho muitas questões quanto a isso, mas daí é mais minha indignação com a cara de pau de não querer trabalhar pra nada e só comprar uma empresa que fez todo o trabalho que ele não queria fazer e foder tudo depois. mas, novamente, isso é assunto pra mesa de bar!!
mais humor