🛸 olá, internautas! 🛸
desde o fim de semana que o elon musk tuitou que usuários que não pagam o tuíter só poderão ver 600 tuítes, apareceram TANTOS textos mais ou menos analíticos sobre o tuíter e suas mais ou menos reproduções bluesky e threads que, honestamente, já deu. digo isso cansada, muito cansada, e com três textos começados e não terminados sobre o assunto. mas o que mais tenho a dizer que não se disse por aí? os meus queridinhos falaram muito do que penso e do que observei na minha própria experiência nesses últimos dias, então, antes de mais nada, aqui vão uns links para ficarem por alguns meses nas suas abas:
Threads is a mecca of Millennial brain rot
Paying to use a site you can't use anymore
li ambos durante essa confusão toda e pensei meus pensamentos, inclusive pontos que são levantados meio ~en passant e que gostaria de desenvolver, mas isso significaria reler os textos com calma e pensar em todas as mil opiniões e análises que li ou pelo menos dei uma passada de olho e, novamente, eu tô cansada, muito cansada, e imagino que vocês também.
existe algo muito cruel no jeito que a economia na internet se estabeleceu. talvez seja porque até lá pra 2010, ninguém sabia muito bem como era possível ganhar dinheiro com a internet se não fosse por sites de compra e venda. antes, tinha muito de sorte. e, com sorte, você era incorporado em outros sistemas que já existiam – por exemplo, a indústria fonográfica ou o mercado de publicidade e propaganda. mas com o tempo, as próprias empresas foram criando diferentes maneiras de gerar lucro (publicidade, venda de dados, compra de prioridade de publicações etc.) e, nessas criaram também um sistema em que consegue fazer com que as pessoas que geram lucro pra elas (nós) também se sintam recompensadas. então, ficam aí algumas migalhas dos bilhões deles pra gente. mas, com trabalho bom e duro, inteligência e paciência, qualquer um de nós também pode conseguir algo a mais. é a reprodução da crença neoliberal. pode ser qualquer um de nós. mesmo que não seja quase ninguém. o importante é possibilidade.
essa esperança que vem com a possibilidade é o mais cruel e o que funciona desde as priscas eras da invenção do capital. todo mundo quer acreditar. todo mundo, mesmo que secretamente, acredita um pouquinho. então a gente se esforça pra entender o funcionamento do Sistema e corre pra conseguirmos nossas migalhas com um bom SEO, repetindo palavras-chave, correndo pra falar do assunto da vez.
dessa vez, o assunto foi tuíter, threads e bluesky. bluesky este que já está ficando pra trás! em duas semanas! e nem falemos dos coitados dos trabalhadores que perderam o fim de semana no começo do ano1 pra fazer o koo funcionar direito no brasil. já era, irmão, perdeu. mas pelo menos eles tentaram… não?
no koo foi mais fácil porque todo mundo entrou com a mesma motivação: trocadilhos com cu. mesmo que fossem os mesmos trocadilhos, bicho, é uma rede social chamada CU!!! nós brasileiros, como nação, não superamos ainda a fase a anal. então, com o perdão do trocadilho, foi TÃO fácil se dar a isso! mesmo que durasse 24h, foram 24h extremamente felizes na internet brasileira. e, meu irmão, taí uma coisa rara de se viver nos nossos tempos.
depois que a febre do koo passou, tudo voltou ao que era. de vez em quando alguém anunciando que é agora que o tuíter morre de vez e o tuíter não morrendo e todo mundo estressado e assuntos insanos rolando. o bluesky até se lançou nesse meio tempo, mas essa coisa babaquinha de estadunidense de ter que ter convite e tal, não é como se tivesse feito um fuzuê desses. mas às vezes não ter fuzuê é bom, porque os caras estão construindo ali a cultura deles aos poucos, quem sabe. até que chegou o dia que o tuíter apareceu dizendo haha agora temos LIMITE DE TUÍTES LIDOS, e os tuiteiros, loucos e viciados, falaram: agora chega.
eu também fiz isso. porque já não uso mais o tuíter direito mas gosto de jogar umas ideias assim pro nada. também porque eu sou viciada e minha cabeça se deteriorou um bocadinho com anos de uso de redes sociais. porque também uma amiga minha me passou o código lá que precisava e eu tava curiosa. daí né entrei. mas eu tinha esquecido da bizarrice que é começar uma rede social do zero.
a bizarrice que é começar uma rede social do zero
existem tipos diferentes de rede social. não vou dissecar aqui os tipos que existem e seus funcionamentos, mas convenhamos que facebook e orkut são/ foram redes muito diferentes do tuíter, que também é muito diferente do instagram, que é diferente do snapchat, que é diferente tumblr ou do tiktok e assim por diante. dá pra passar uma vida nisso. por mais que a maioria dessas redes sejam microblogs, elas se estruturam e criam dinâmicas muito diferentes.
só que a maioria dessas redes sociais surgiram já faz uns bons anos. e a vida era muito diferente nessa época. o tiktok é a rede mais recente, mas é também a que menos exige que você ativamente faça algo. claro, você pode postar seus próprios vídeos, mas você não entra numa rede com um feed vazio. muito pelo contrário: você entra e já é bombardeado de vídeos diferentes e o algoritmo já tá lá doidão dizendo OPAA FICOU 3 SEGUNDOS VENDO O VÍDEO HEIN SIGNIFICA. não é a mesma coisa que criar uma conta nova de uma rede no estilo do tuíter.
só que quem tá no tuíter tá no tuíter faz anos e mais anos. então entrar numa rede social que é tipo o tuíter mas sem as redes que você criou no tuíter é bizarro. quando estamos tão acostumados com um feed cheio de informação, olhar pra um feed vazio é muito, muito esquisito. ainda mais quando tá todo mundo começando ao mesmo tempo. quem você vai seguir? como você sabe quem vale seguir ou não? o que você vai postar? como você vai ganhar seguidores? que seguidores vão ser esses?
diante do meu feed vazio do bluesky, depois de estranhar ter que encontrar uma foto pro meu perfil e copiar e colar minha bio do tuíter, eu não tinha a menor ideia do que fazer. quer dizer, eu sabia o que tinha que fazer: um post. mas O QUÊ escrever?!
não tinha uma piada pronta como no koo. não tinha um bando de gente já falando sobre certos assuntos pra eu entrar no papo. só estava eu ali diante daquele nada tendo que dizer alguma coisa.
por sorte, na noite anterior, eu tinha saído pra beber com umas amigas e ainda lembrava de uma frase de efeito que daria um excelente tuíte mas que não fiz na hora porque eram 3:30 da manhã e todas as mudanças do musk destruíram o público que eu tinha. então, fiz meu primeiro post:
4 likes. eu aqui mandando o segredo pra uma vida feliz, algo que todos almejam, e ganho um total de 04 (quatro) likes!! é um absurdo mesmo.
depois disso, comecei a seguir algumas pessoas e tentei passar uns dias tratando o bluesky como tuíter. só que não era o tuíter. as pessoas que me seguem e que eu sigo não são as mesmas, ninguém tem muito assunto, os que vi rolando entre as parcas 33 pessoas que sigo não davam conta de me manter ali2. mas, honestamente, o que dá conta de me manter ali?
o que dá conta de me manter ali?
e, por ali, quero dizer, em qualquer rede social.
a resposta mais sincera que tenho pra dar é que eu não sei. e o problema é que tô cansada demais para tentar encontrar uma resposta.
as exigências digitais se misturam com as exigências do mundo analógico, tudo se cruza e se bagunça e o resultado disso é uma exaustão profunda. de certa forma, nada me mantém em lugar algum. e eu ainda tenho que ver o filme tudo todas todes (que suspeito que nem vou gostar tanto assim, mas ok), mas não consigo deixar de pensar nessa noção de ubiquidade não mais como um todo, mas como um estraçalhamento de mim e de nós. mas isso já é papo pra outro dia, outro momento, depois de termos tirado uma sonequinha.
enquanto isso, vocês podem me seguir no tuíter, instagram, bluesky, pinterest e assinar minha outra newsletter. qualquer rede social em que minha arroba não é brownebrownie é que eu não quero ser achada. se esbarrarem comigo na rua, venham me dar oi, mas plmdds não me sigam, seria assustador.
vocês também podem contribuir com a existência dessa newsletter divulgando ela por aí, mas também se inscrevendo na versão paga dela! com isso vocês me ajudam a ter mais tempo pra pesquisar e escrever sem com que eu esteja completamente exausta, o que é muito, muito bacana. os pagadores de newsletter também recebem uma cartinha extra todo o fim do mês com uma porrada de dicas de coisas pra ler, ver e ouvir, que, no fundo, é o que procuramos nas newsletters 90% do tempo. então, se quiserem me ajudar E receber essas dicas massa, já sabem:
bjoks,
Clara
na vdd, eu não lembro quando foi. na minha cabeça, foi no começo do ano.
nesse sentido, até acho curioso o caso do threads, que só meio que já colocou geral que você segue no instagram. por um lado, taí um time de gente que não entende o apelo de uma rede como o tuíter. mas, por outro lado, taí um time de gente que entende que o apelo de uma rede social ainda é meio que ver coisas? mas nem tenho o que falar sobre o threads porque não baixei nem pretendo baixar mais um aplicativo da meta.